segunda-feira, 4 de abril de 2011

O ator e sua flor


"Finalmente, o ator terá a possibilidade de doar sua flor ao público. Ele cultivou a semente nos trabalhos pré-espressivos, regando-a com os diversos trabalhos e treinamentos. Viu essa semente transformar-se em botão, na forma de matrizes, nas pontes, tratando esse botão com a codificação, vida e organicidade, presenciando, finalmente, o desabrochar de suas flores. Depois colheu todas elas, pelo menos as mais belas e vistosas naquele momento, arranjou-as em um ramalhete, enlaçando-as com os ligâmens. Utilizando uma ferramenta chamada variação de fisicidade, cortou alguns espinhos de uma, aparou algumas folhas de outras, agrupou duas ou três flores em um só talo e tirou o talo de duas outras, deixando somente a flor. Finalmente, embrulhou em papel de espetáculo, entrou em cena e entregou seu ramalhete a todos os presentes através dos olhos e de vibrações desconhecidas mas perceptíveis. Saiu de cena vazio de suas flores, mas preenchido pela troca com o público, e voltou ao jardim para preparar outro ramalhete para a noite seguinte."

Ferracini, Renato. A arte de não interpretar como poesia corpórea do ator/ Renato Ferracini. Campinas, SP. Editora da Unicamp, 2003. Página 244.

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