quarta-feira, 8 de maio de 2013

Equivalência

"Colocamos flores em um vaso para que mostrem sua beleza, para que alegrem a visão e o olfato. Podemos transformá-las em uma mensagem: piedade filial ou religiosa, amor, reconhecimento, respeito. Porém, por mais belas que sejam, possuem um defeito: arrancadas de seu contexto representam somente a si mesmas. São como o ator do qual fala Decroux: um homem condenado a parecer um homem, um corpo que imita um corpo. Pode ser prazeroso, mas é insuficiente para a arte. Para que seja arte, acrescenta Decroux, é preciso que a ideia da coisa seja representada por uma outra coisa. As flores em um vaso, em vez disso, são irremediavelmente flores em um vaso, algumas vezes, sujeitos de obras de arte, mas jamais obras de arte em si. Imaginemos usar as flores cortadas para representar a luta da planta para crescer, para distanciar-se da terra na qual quanto mais se afundam suas raízes mais seu talo se eleva em direção ao céu. Imaginemos querer representar a passagem do tempo como a planta nasce, cresce, murcha e morre. Se alcançamos nossos propósito, as flores representarão algo diferente das flores e vão compor uma obra de arte. Haveríamos feito um ikebana." A canoa de papel, Eugênio Barba, 2012, pg. 48.