quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Por Fernando Pessoa


"Dividiu Aristóteles a poesia em lírica, elegíaca, épica e dramática. Como todas as classificações bem pensadas, é útil e clara; como todas as classificações, é falsa. Os gêneros não se separam com tanta facilidade íntima e, se analisarmos bem aquilo de que se compõem, verificaremos que da poesia lírica à dramática há uma graduação contínua. Com efeito, e indo às mesmas origens da poesia dramática-Ésquilo por exemplo-, será mais certo dizer que encontramos poesia lírica posta na boca de diversos personagens.
O primeiro grau da poesia lírica é aquele em que o poeta, concentrado no seu sentimento, exprime esse sentimento.Se ele, porém, for uma criatura de sentimentos variáveis e vários, exprimirá como que uma multiplicidade de personagens, unificadas somente pelo temperamento e o estilo.[...]Dê-se o passo final, e teremos um poeta que seja vários poetas, um poeta dramático escrevendo em poesia lírica. Cada grupo de estados de uma alma mais aproximados insensivelmete se tornará uma personagem, com estilo próprio, com sentimentos porventura diferentes, até opostos, aos típicos do poeta na sua pessoa viva.E assim se terá levado a poesia lírica-ou qualquer forma literária análoga em sua substância à poesia lírica-até à poesia dramática, sem todavia se lhe dar a forma de drama, nem explícita nem implicitamente.
Suponhamos que um supremo despersonalizado, como Sheakspeare, em vez de criar o personagem de Hamlet como parte de um drama, o criava como simples personagem, sem drama.Teria escrito, por assim dizer, um drama de uma só personagem, um monólogo prolongado e analítico. Não seria legítimo ir buscar a esse personagem uma definição dos sentimentos e dos pensamentos de Sheakspeare, porque o mau dramaturgo é o que se revela.
Por qualquer motivo temperamental que me não proponho analisar, nem importa que analise, construí dentro de mim, personagens essas a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos meus sentimentos e idéias, os escreveria.
[...]
Parece escusado explicar uma coisa de si tão simples e intuitivamente compreensível.Sucede, porém, que a estupidez humana é grande, e a bondade humana não é notável."
Fernando Pessoa em Poemas Completos de Alberto Caeiro -Ficções do Interlúdio/1 -página13.

Fernando Pessoa, explicando o porque de seus heterônimos, faz uma viagem e tanto dentro de sua vida pessoal ao início de sua Ficções do Interlúdio, mostrando de onde surgem tantos eus-Ferando Pessoa, e outros que não vêm de Fernando Pessoa, mas surgem de algum sentimento que ele não sentiu mas que a vida poderia o feito sentir,mesmo dizendo que tudo isso é inútil.Ainda não li seus poemas dramáticos-líricos mas achei ousado ele se comparar a Sheakspeare.Bom, vale a pena ler essa explicação dele:nos faz despertar nosso eu-psicólogo, pra tentar entender como ele se transforma em tantos e constrói tantos.Começando por aquela história de criança, de amigos imaginários.

"...e a inclinação com que se aproximou das doutrinas esotéricas que o levaram a tocar muito de perto a iniciação ocultista, em si, de fenômenos-embora simples- de mediunidade."-pg.19

2 comentários:

Anônimo disse...

nao tive tempo de ler coerentemente...mais essa frase bateu comigo...
**que a estupidez humana é grande**
no monento em q nos encontramos nos encontramos cada vez mais estupidos....
bjokas...

Mari Antonaci disse...

bacana, mas bem complesxa naum?!
uhuhuhuhu

bjos
=***