sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Poemas completos de Alberto Caeiro/O Guardados de Rebanhos


II

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo comigo
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...


Fernando Pessoa

3 comentários:

Mari Antonaci disse...

amei esse poemas super biurifol!!!
hushusahusuha

Zé da Lagoa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Zé da Lagoa disse...

Nossa, são 1:23 da madrugada e eu vim no seu blog ver se tinha novidade e tinha e, muitas! Mas não esperava um poema que mexesse tanto comigo, que sacudisse meus muros sólidos, tudo que eu pensava sobre pensar agora vai ter que ser repensado ou não, já que quando pessamos, pode ser porque não compreendemos, mas se compreendermos, pode perder a graça, era como se Deus se mostrasse, deixaria sua graça, deixaria de ser Deus, queria discutir mais sobre esse poema, só que ainda vou lê-lo mais e pensar sobre, também to meio cansando pelos trabalhos de faculdade pra isso. Mas curtir demais, adoro poesia terremoto, poesia terremoto é um termo que acabei de inventar, neste minuto, para designar este tipo de poesia, que balança nossas estruturas filosóficas.
É isso!
To falando demais né!
Bj!
Curti muito!
Inté!