segunda-feira, 12 de abril de 2010

Conversa de criança.


"Improvisar uma situação no palco, tem sua própria espécie de organização, como no jogo. Depois que um grupo de atores de seis a sete anos brincaram-de-casinha no palco, houve a seguinte discussão:

Vocês estavam brincando-de-casinha ou estavam representando uma peça?
'Éstávamos representando uma peça'.
Qual a diferença entre brincar-de-casinha no seu quintal e fazer isso aqui?
'nós temos um palco aqui'
Aqui nós estamos brincando de casinha?
'Não; aqui nós estamos fazendo uma peça'.
O que vocês têm aqui além de um palco?
'Uma platéia'.
Porque a platéia vem ver uma representação?
Eles gostam - é divertido'.
Aquilo que vocês representaram divertiu a platéia?
'Não'
Porque não?
'Não deixamos eles ouvirem nossas vozes nem tornamos a peça mais interessante pra eles'.
O que podiam fazer para a representação ser mais interessante?
'Podíamos ficar emburrados, ou todos iríamos ver a T.V. ao mesmo tempo - qualquer coisa assim.'
Eu gostaria de perguntar novamente: vocês agora estavam brincando-de-casinha ou representando uma peça?
'Estávamos brincando-de-casinha'.
Vocês acham que podem voltar ao palco e, em lugar de 'brincar-de-casinha', como no seu quintal, fazer uma peça sobre uma família numa casa e mostrar-nos Onde vocês estão, Quem vocês são e O quê estão fazendo ali?
'Sim'.

A cena foi feita novamente, retendo toda a graça da primeira execução, a par de um esforço verdadeiro dos atores para torná-la 'mais interessante para a platéia'. A espontaneidade da brincadeira de fundo de quintal manteve-se, acrescida da realidade em transmitir sua experiência à platéia.

A crinaça também pode aprender a não fazer-de-conta, mas 'tornar real'. Pode aprender a mágica teatral de 'tirar um coelho da cartola'.
Perguntou-se a um grupo de oito a onze anos porque precisavam tornar as coisas reais para a platéia e não faz-de-conta.
'Se você faz-de-conta, não é verdadeiro, e a platéia não pode ver."

Viola Spolin. Improvisação para o Teatro, pg 254 e 255.

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